- O que é fisioterapia do assoalho pélvico e de que forma os exercícios podem ajudar no tratamento da incontinência urinaria?
A fisioterapia do assoalho pélvico é denominada fisioterapia pélvica e é reconhecida como primeira linha de tratamento conservador para as incontinências urinárias. Além das disfunções miccionais do adulto e da criança, a fisioterapia pélvica previne e/ou trata das disfunções anorretais, algias (dores) pélvicas, prolapsos genitais e disfunções sexuais. Isto porque os músculos trabalhados na fisioterapia (músculos do assoalho pélvico) são responsáveis pelas funções urinária, fecal e sexual, além de parte da função obstétrica e do suporte dos órgãos pélvicos.
- Os exercícios são indicados em todos os casos/tipos de incontinência ou em alguns casos é preciso associar ao uso de medicamentos e outros métodos?
Os exercícios dos músculos do assoalho pélvico são muito importantes para obtenção do reforço e coordenação desses músculos e indicados para os pacientes que apresentarem:
Incontinência Urinária de Esforço: perda de urina associada à tosse, espirro, saltos, risada ou atividades físicas.
Incontinência Urinária de Urgência: perda urinária ocorre associada a uma vontade imperiosa e urgente de urinar.
Incontinência Urinária Mista: perda urinária ocorre durante um esforço e também na presença de urgência.
Incontinência Urinária Pós-Prostatectomia: perda urinária ocorre após a cirurgia de retirada da próstata.
Incontinência Urinária de origem neurogênica: quando a incontinência urinária está associada a doenças de origem neurológicas como Parkinson, Diabetes Mellitus, Esclerose Múltipla, HTLV1 (paraparesia espástica tropical), Lesão Medular Incompleta, entre outras. Em casos como a incontinência urinária de urgência, mista e de origem neurogênica o tratamento fisioterapêutico pode ser associado ao tratamento medicamentoso oral e ao tratamento com aplicação de toxina botulínica.
- Em alguns casos a fisioterapia conta com a ajuda de aparelhos de eletroestimulação e biofeedback?
O tratamento fisioterapêutico é indolor e conta com a utilização de algumas técnicas que auxiliam os exercícios, tais como:
Eletroestimulação: utilizada para promover reconhecimento da contração dos músculos do assoalho pélvico, bem como no seu fortalecimento e para inibição da contração excessiva da bexiga (nos sintomas de urgência miccional).
Biofeedback Eletromiográfico: aparelho que permite ao paciente a identificação dos músculos do assoalho pélvico através de sinais visuais e auditivos. É de grande auxílio para coordenação e controle voluntário desses músculos, resultando na melhora dos sintomas.
Cones Vaginais: técnica exclusiva para mulheres. São conhecidos como pesos vaginais. São usados para o treinamento e fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico de maneira progressiva, já que os pesos variam de 20 a 70g.
Terapia Comportamental: Trata-se de uma série de modificações no estilo de vida do paciente que é orientado a controlar a ingestão de líquidos durante o dia e a noite, controlar a alimentação, regular os intervalos entre as micções, e realizar atividades físicas.
- Os resultados com a prática dos exercícios ajudam a eliminar ou estabilizar o problema?
Os resultados irão depender do tipo e gravidade do problema. No caso da incontinência urinária de esforço (IUE), as que possuem melhores resultados são aquelas onde a perda urinária ocorre mediante grande esforço físico. Já na incontinência de urgência (IUU), a fisioterapia auxilia no controle da urgência e elimina a perda de urina em grande número de pacientes, através das mudanças no estilo de vida, dos exercícios e da estimulação elétrica do nervo tibial.
- De que forma a fisioterapia atua para prevenção de futuras disfunções urinarias?
A melhor maneira de prevenção é o reconhecimento do status perineal, isto é, do tônus, da força e da coordenação dos músculos do assoalho pélvico. Deste modo, principalmente as mulheres por serem mais suscetíveis as disfunções perineais, deveriam incluir uma avaliação pélvica em seu calendário. E isso pode ser realizado na mais tenra idade, a partir do início da sua vida sexual, o que auxiliaria muito no seu autoconhecimento, na prevenção das disfunções miccionais, colorretais e também em sua função sexual.
- Você poderia, por gentileza, citar os exercícios que são realizados no tratamento da incontinência – como um passo a passo.
Teste os seus músculos perineais (assoalho pélvico):
Para identificar a musculatura perineal, ao urinar, interrompa o jato de urina e deixe-o sair depois. Isso, certamente, não é um exercício, mas um meio para ajudar a identificar a sensação gerada pela contração dos músculos do assoalho pélvico. Dica: Faça esse teste apenas uma vez por mês para descobrir o seu nível de controle sobre o seu períneo. Ele NÃO deve ser realizado toda semana!!!
1) Exercício 1:
Sente-se em uma cadeira e apoie as mãos nas coxas. Deixe os pés paralelos, totalmente apoiados no solo e distantes 30 cm um do outro. O contato do períneo (músculos do assoalho pélvico) com a cadeira lhe dará mais percepção ao movimento. Os exercícios podem ser realizados no metro, ônibus ou em casa, desde que preste atenção ao movimento.
Contraia os músculos perineais imaginando que você está tentando evitar soltar gases. Contrair por 1s e relaxar por 3s (contrai-solta)
(Realizar 10 repetições – 2 a 3X por dia)
2) Exercício 2:
Ainda sentado, inspirar e ao expirar (soltar o ar) realizar a contração perineal sustentando esta de 05 a 10 segundos (o que conseguir, sem auxílio dos músculos abdominais). Relaxar 10 segundos até a próxima contração perineal.
(Realizar 10 repetições – 2 a 3X por dia)
- A senhora gostaria de acrescentar alguma informação ou relatar algum dado que julga importante?
Sim. Os músculos do assoalho pélvico (períneo) são responsáveis pelo suporte dos órgãos pélvicos, pela continência urinária e fecal e pela função sexual. E por isso homens e mulheres devem incluir estes exercícios em sua rotina, prevenindo problemas relacionados às disfunções desses músculos, além de incrementarem suas vidas sexuais.
Dra. Mônica Lopes
Fisioterapeuta especializada em Saúde da Mulher.
Membro da Associação Brasileira de Fisioterapia em Saúde da Mulher (ABRAFISM)
Membro da Sociedade Internacional de Medicina Sexual (ISSM)